quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Encantar-se






 Naquela manhã acordara e fora impactado com a notícia que um avião caíra nas montanhas da Colômbia, a terra do realismo fantástico de Garcia Marquéz. Acidentes acontecem, tragédias acontecem. A morte ronda a vida como uma irmã, como já alertara Francisco, o de Assis.
No avião estava a tribo de Condá que ia à batalha nos campos de futebol em busca da glória!
Ele que desde a copa da Espanha em 1982 aprendera a gostar do futebol quis entender aquilo... Seu pai lhe contara do time do Torino que tivera o mesmo destino em 1949 e agora ele presenciara tragédia semelhante.
Racionalmente buscara compreender que a existência é feita também de tragédias, mas era impossível, como admirador do futebol e especialmente da vida não se perguntar o “por quê?” mesmo sabendo que não haveria respostas.
Mas o fato o relembrara algumas lições.
A primeira delas,  “a vida é breve, a arte é longa” , como diriam os clássicos latinos. A vida é frágil, não há certeza que ver-se-á o sol nascer amanhã, apenas crê-se por hábito que sim como quisera inferir Hume, o filósofo cético. Portanto há várias probabilidades de que a vida seja realmente muito breve...
Outra lição, todos os problemas da vida são pequenos diante da tragédia, tragédia que nem sempre se percebe mas que está sempre ao nosso redor, seja ela afetiva, somática, política ou aquela que ceifa a vida, essa última traz a dor mais lancinante e diante dela calam-se todos os humanizados, pois nas palavras do poeta: A morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte da humanidade; eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim.
Aquela manhã triste lhe renovara na mente algumas lições e questionamentos que ele quis racionalmente responder através da lógica heideiggeriana que afirmara que o ser humano é “um ser-para-a-morte”,  lógica que o lembrara  que humanos são como os gladiadores romanos, na arena do mundo já entram dizendo ao imponderável: morituri te salutant, (os que vão morrer te saudam). Porém não quis aceitar a lógica fria da filosofia... 
Com os olhos marejados por aqueles que partiam preferiu lembrar a poesia extraordinária de Guimarães Rosa “A gente não morre. Fica encantado”. 
Nas montanhas mágicas de Gabriel Garcia Marquéz os guerreiros juntaram-se a Condá e  se encantaram, para sempre vão estar na memória e no coração dos que ficam, por um tempo incerto, no palco do mundo!

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Meus amigos, meus heróis




Mudanças? Quem quer dança e luta!
Meus amigos, meus heróis querem mudanças.
Dançam e não fogem da luta.
Querem mudanças mas não impostas por cabeças ignotas!
Querem discutir, debater, ler
Sem catecismos ou doutrinação
Foram para ação!
Aos educadores deram a lição
“Ninguém pode vencer trancado em seus egoísmos ou próprios interesses…”
Todos devem escolher seu lado sem covardia, com galhardia”.
Pois se não os chamaram à mesa dialética para discutir a educação é porque a oligarquia  não tem ética.
Assim, a juventude  entrou nas escolas com nobreza, coragem e beleza e fizeram delas extensão da sua casa pois, (parafraseando o poeta) a escola é do povo, assim como o céu é do condor
Por isso ali não há baderna, há uma ocupação fraterna, que avisa:
“Não há um ensino onde para alguns o pão, a outros as migalhas”.
Se a tirania voltou, democraticamente as escolas foram tomadas!
“Educação sem divisão, com equidade, com a mesma oportunidade”!
Diz o simbolismo da ocupação!
Assim, meus amigos, meus heróis, a vós uma reverência sincera, nas palavras do Milton Nascimento, de voz angelical que nos seus versos traz os mil tons da luta,
Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Tantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor e fruto
frutos da coragem de vocês,
meus amigos, meus heróis!

domingo, 4 de setembro de 2016

STRANGER THINGS E OS SABORES DA INFÂNCIA



Ouvira dos amigos que aquela série era uma das melhores produzidas pela “Netflix”...coisas estranhas!
Arriscaria, afinal os tempos eram de “coisas estranhas”...de ódio mútuo, de pessoas se digladiando nas redes sociais, enquanto o “rei estava nu”. A história se repetira como tragédia...coisas estranhas!
Fora então para a TV e lá vira Stranger Things. Ficara encantado como as crianças, com cenas que faziam reminiscências a década de 80 (que ouvira de seus alunos fora uma década perdida economicamente, os alunos dele eram bem informados nas redes sociais...coisas estranhas)
Coisas estranhas é o que sentira ao ver a série. Lembrara da infância, tentou manter a distância e viver o presente e só o presente...”o passado já era, o futuro não existe” pensara de forma estoica, mas a série derrubou a máscara estóica.
Aquelas reminiscências o fizeram voltar pelo menos trinta e cinco anos no tempo, como no universo paralelo de Stranger Things, se vira na “vila pobre” bairro de uma pequena cidade do interior onde morava sua avó, a “vila pobre” deveria chamar-se “vila feliz”, mas já naquele tempo, os seres humanos já confundiam felicidade como poder aquisitivo… coisas estranhas!
Lembrara-se de como as tardes de domingos eram intensas...poeira levantado na rua sem asfalto, efeito do jogo de “bets”, molecada correndo suja pelas ruas, sem se importar se a inflação estava acabando com o salário dos pais, se o amigo era evangélico, católico, umbandista…eram amigos!
Tucano era só uma pássaro bicudo, coxinha era o que adorava-se comer com pimenta, irmãos metralha eram os vilões de Disney e vermelho era a goiabada que costumávamos passar no pão caseiro, feito no forno de barro da avó que sempre gostava da casa cheia! Hoje o vermelho pode levar a hermenêutica do ódio e depende onde você estiver corre o risco de apanhar...coisas estranhas!
Lembrou-se do velho “Jipe” do avô, apreciador de Brahma, não do deus hindu, mas da cerveja mesmo… Nas tardes de domingo colocava a “netaiada” naquele meio de locomoção e descia a toda (anjos da guarda existem...pensara ele ao lembrar daquelas descidas) a estrada que levara ao seu sítio, o “sítio do vô” e lá passava-se parte das tardes de domingo.
Hoje cuidar da vida para alguns parece ser um “peso existencial” ...coisas estranhas!
Por fim, ao ver stranger things pensara naquilo que os alunos chamaram de década perdida, e chegara a conclusão que podem dizer o que for da década de oitenta, podem condená-la economicamente, podem riscá-la da história, mas para os que a viveram como crianças é impossível não pensar que “coisas estranhas” acontecem no aqui e agora quando tudo que é “sólido se desmancha no ar”
“...eram estranhos” dirão os que olharem para aquela infância, “éramos felizes” dirão os que viveram aqueles tempos!

quarta-feira, 2 de março de 2016

Carta aos quarenta









Chegastes...Cheguei
Há tempo para tudo debaixo do céu, diz o Eclesiastes,
Olhando o tempo repito os versos de Álvaro de Campos, uma pessoa do Pessoa:
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Sonhos, quantos tive? Inúmeros
Poucos realizei.
Mas isso não é um arrependimento, é uma constatação.
A vida é feita de escolhas. Não é feita de “ah se...”
Condicionais não fazem a vida.
As condições? Talvez.
Penso na morte...como companheira de jornada.
Parece-me mais próxima, essa proximidade porém qualifica a vida.
Hoje desejo viver intensamente cada minuto que me é permitido.
Entendo melhor o conceito de graça!
Pedir...nada mais.
Apenas agradecer aquilo que me é oferecido.
Ter alegria de viver e não ter a vergonha de ser feliz.
O desafio de tentar ser melhor a cada instante.
O prazer de voltar ao lar e contemplar o rosto acolhedor da pessoa amada,
Minha amiga e companheira no infinito de nós dois.
A vida se mostra madura
Hora de revisar, olhar para o tempo passado , perdoar-se, perdoar...e continuar
Viver o presente...que é o melhor “presente”.
Pois o futuro é uma incógnita, como na canção de Toquinho:
uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Quarenta anos seja bem vindo…
morituri te salutant,
pois , Viver é perigoso!



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Tempus Fugit



homenagem à quem, por falta de tempo, teve que partir...

O tempo nem sempre é gracioso como desejamos…
Na maioria das vezes, ele nos devora e apavora como no mito grego!
Hoje ele nos apavora...Sabemos que você se vai por falta de tempo!
Esse tempo do qual não somos senhores ou senhoras!
E nós que ficamos perderemos o tempo gracioso de estar com você…
Com seu caráter sempre firme.
Com sua postura correta.
Com sua competência em ser o que é!
O tempo nos devora…
Mas nunca esqueceremos o tempo gracioso que você esteve conosco.
Na atividade cotidiana de educar, mas também na atividade extraordinária de celebrar a vida!
Tempo gracioso de convivência que certamente nos fez melhores, esse tempo é eterno e inesquecível, pois fixou-se em nossas memórias.
Como Milton Nascimento queríamos cantar:
“Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver
Forte sou, mas não tem jeito, hoje tenho que chorar...”
Por isso o tempo passado conosco, não passará.
Foi um tempo de graça, que superou toda a cronologia,
as lágrimas que trazem à tona a saudade e a vontade de eternizar cada momento nos faz repetir Adélia Prado,
“O que a memória amou tornou-se eterno”!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O MOLHO DE TOMATE OU RECEITA PARA SE LIVRAR DA ACIDEZ










O molho de tomate traz as mais distantes reminiscências.
Lembro-me de quando pequeno, meu saudoso pai pegava-me pela mão e contrariando as ordens de minha mãe me levava para comer cachorro quente com “sodinha”, raramente. Afinal a vida não era fácil naqueles tempos!
O que mais me agradava no cachorro quente era o molho de tomate, não conhecia bacon!
Mas o molho de tomate atualizando as reminiscências infantis também é uma metáfora da vida.
Nele  o vermelho da paixão remete ao pathos grego, o espírito que move a vida e não nos deixa cair na apatia!
Só os tomates maduros dão bom molho, só o tempo pode nos fazer melhores e enxergar a vida de outra forma, que torna o peso da existência muito mais leve, mesmo nos momentos tensos!
A vida só faz sentido partilhada, sorver o molho de tomate na solidão não tem o mesmo sentido com a tolha posta, falas altas , risos ou seja conviver, ser companheiro, nos faz menos egocêntricos e mais aberto as diferenças, por isso há no molho de tomate vários temperos e sempre uma pitada açúcar para não deixar que a acidez estrague o sabor.
A vida é assim, quando nos percebemos ácidos demais é necessário uma pitada de açúcar, que pode vir em uma música, em um filme, em um colo, em um sorriso partilhado, uma obra de arte e até um simples por do sol, que nos leve a acidez e equilibre a alma.
Afinal como diz a poesia feita canção: “Viver é afinar o instrumento, de dentro da fora, de fora para dentro”...a pitada de açúcar nos afina com a vida e nos permite equilibrar a existência!
A vida é simples se soubermos fazer dela tal   como o molho de tomate, que nos remete a infância e na criança que existe em nós!

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Diálogos Sociológicos








Um professor de sociologia adepto a trazer para realidade dos alunos os problemas sociológicos tenta “adaptar o conteúdo” e inicia o seguinte diálogo:

Professor: Hoje falaremos sobre os clássicos da sociologia! O que é um clássico?
Aluno: Pois é professor domingo tem clássico: Corinthians X Santos.
Professor: Não “clássico” neste sentido! O clássico é por exemplo Augusto Comte:
Aluno: Sim, sim a Sociologia tem haver com futebol, olha o que o senhor disse: “Augusto Comte”, este deve ser o fundador das cervejaria CONTI BEER? Não é. Cerveja e futebol tudo haver. Um clássico!
Professor: Não, não! Estou falando de Augusto Comte, Émile Durkheim, etc.
Aluno: Professor, o que a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo tem haver com Sociologia.
Professor: Amigo, pode haver uma relação interdisciplinar, mas aqui é o Émile, não é a Emília. Mas Monteiro Lobato foi um clássico da literatura assim como “Casa Grande e Senzala” foi da Sociologia.
( O aluno pensa: “Meu Deus, este professor confunde o artigo masculino, com feminino”)
Aluno: Está vendo professor, clássico e futebol, tudo haver! Mas a dupla de ataque do Corinthians era Casagrande e Sócrates, também tinha o Biro-Biro! A dupla não era Casagrande e Senzala!
Professor: Não meu amigo, embora eu acompanhe este seu racícionio, não estamos nos entendendo. Veja bem, um clássico da Sociologia é uma obra como a de Darci Ribeiro por exemplo que analisou a formação do povo brasileiro.
Aluno: Ah professor entendi, mas eu li um trecho do livro DA Darci Ribeiro, não do Darci Ribeiro! ( o aluno com certo ar de arrogância continua...) O senhor não sabe que Darci é nome feminino, precisa melhorar seu português...pelo amor de Deus! Mas creio que a autora quando escreveu essa obra já estava convertida à Igreja Universal, pois na “formação do povo brasileiro” não tem nenhum palavrão , nenhum peito de fora. Imagine o povo brasileiro sem palavrão! A Darci se converteu mesmo! Mas para sua alegria eu conheço essa autora e atriz. Grande clássico da TV brasileira.
Professor: Assim eu desisto, você não está me entendendo, não consigo entrar em diálogo com você,  assim está difícil!
Aluno: Pois bem, professor, chega-se assim a conclusão que você deveria voltar a faculdade e aprender como ensinar, comunicar-se, ser mais dinâmico, pois conheço os clássicos da sociologia melhor que você e os relaciono bem à realidade como demonstrei! Por tanto é melhor o senhor vender espetinhos domingo no clássico Corinthians x Santos e deixe o que não entende para quem sabe! Ah e aproveite as manhãs de domingo para ver o tal de Mark WEBER na GP de Fórmula 1. O Senhor falou dele na aula passada, lembra? Foi ele que começou a Reforma Protestante! Certo?

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Parabéns Brasil - Por Stallone Ribeiro


Parabéns ao Brasil por consolidar sua Democracia ! Idependende de quem ou qual foi a pessoa ou partido vitorioso, todo o Brasil ganhou maturidade democrática. Porém, muitos agridem e menosprezam os "outros" através de ideologias como Separatismo sulista, Etnofobia nordestina, Preconceito social e até Xenofobia.
Dizem ser solidários e caridosos, mas repudiam programas sociais que repassam $70 por criança para alcançarem o mínimo de $200 por pessoa/mês para combater a fome e miséria...
Mas contraditórios, pois defendem e aceitam diárias de viagens, bolsas mestrados/doutorados, financiamentos públicos longos e a baixo juro sobre o carro, a casa própria... querem descontos nos impostos e "jeitinhos" para tudo.
Já que estão insatisfeitos, Emigrem ! (piada) Não são da Elite civil? Mudem-se para Europa, Asia, Etc. MAS... Ops! Eles també tem milhares de desempregados e beneficiados por programas sociais. Inglaterra p/exemplo paga $1500 libras (4000$ reais) e dá casa popular só pra poder criar o filho rescem nascido inglês, independente da classe social... E aí? Radicalismos não resolvem Mágoas.
Precisamos investigar, fiscalizar, denunciar e punir todos os suspeitos e corruptos, inclusive nossos "amigos" ou "conhecidos" empresários, políticos ou servidores públicos que vivem dando "jeitinho", sempre nos "esquemas" locais, municipais, regionais, estaduais, nacional e internacional. É com a força da verdade e o rigor da Lei que passo a passo construíremos um mundo melhor. Não apenas blasfemar insultos contra seres Humanos compatriotas que tanto ajudam a empurrar e dirigir nossa Nação. É a soma das nossas diferenças que nos fazem tão ricos na natureza, economia e cultura.
Quando todos forem éticos e imparciais, através de Educação escolar e familiar, a Cidadania será exercida em plenitude e ninguém será vítima ou cumplice da ignorância preconceituosa e excludente que se enxerga em comentários ou postagens modistas. Parabéns a democracia e “pra frente Brasil” !
Quando os bons se calam, o resto domina. Por isso precisamos sim expressar opiniões seja para que dominemos (se formos os maus) ou para fazer Justiça (se formos os bons). Nada generalizado, mas este texto foi diretamente aos "radicais" ou simpatizantes dos "preconceitos". Mesmo que tenha votado no 45, discordo da violência ao Norte, Nordeste ou Pobres que vejo aqui na rede. Estes comportamentos segregacionistas é que mostram a verdadeira ignorância.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O discurso de posse do "Coroné" - by Reginaldo Alves Mira



Imaginem o "coroné" discursando na posse: 
"Amigos, companheiros e correligionários, estou muito gradecido pela votação que tive e vou começá a trabaiá agorinha mesme, minha primeira medida será um milagre, um ressucitamento, vou desenterrá a cpmf, pois para o bem do povo vamos investir na saúde, mas não só isso não, tem mais, vou tomá imprestado uns bilhões do FMI prá modi miorá a vida do povo, eles exigiram, o FMI, pra liberá a bufunfa pediro só um ajustisin fiscar, coisa pouca, vamo investir tamém na Petrobrás, vamo precisá fazê um acertim no preço dos combustivi, o que vai sê bão dimais da conta, tem muito carro rodando pra tudo que é lado. Agora já vô indo tomá as decisão".

By Reginaldo Alves Mirra

terça-feira, 7 de outubro de 2014

O LIXO TRANSFORMADO EM JARDIM




à M.H. "jardineira fiel" .

Ele, embora sempre acreditando no amor, perdera a esperança, virtude vital para encontrar o dom que tanto desejava! Afinal, por acreditar em apenas uma versão de si mesmo acabara por se considerar indigno do amor, indigno de amar! Sua medida por muito tempo foi a do rótulo que lhe deram por ai: “traste”. Sentido-se um lixo recolheu-se em sua insignificância!
O ostracismo ao qual se  condenara o fazia remoer tudo que lera e escutara ao seu respeito, e aquela atitude solipsista o fez acreditar que de fato era preciso esperar o tempo passar e desistir de ser feliz! Mas a atitude cartesiana do puro pensamento, de pura consciência separada do “mundo da vida” pode criar meditações que além de metafísicas são destrutivas.
Mas de repente, não mais que de repente deparou-se com um ser que o olhava diferente e sem falar absolutamente nada repetia a frase de Guimarães Rosa: Infelicidade é uma questão de prefixo.
O olhar além de físico tem uma categoria metafísica transformadora que pode construir ou destruir. Aquele olhar inspirou a relação EU e TU. Assim medrosamente ele acolheu aquele olhar e mansamente foi saindo de seu solipsismo cartesiano e começou a atirar-se em uma alteridade salvadora. Aos poucos falou de si, ouviu outrem. Disse no que acreditava, mas tinha medo de acreditar. Mas acreditar era preciso, necessário. Corajosamente lançou-se com fé.
Sua fé foi quebrando os próprios rótulos. Não era perfeito, mas não era o lixo que o fizeram parecer. Era necessário revirar o barro, mexer na terra, regar com graça para que o jardim aparecesse. Foi isto que fez aquele olhar gracioso: o fez perceber que do lixo, se bem revirado, poderia fazer nascer um jardim. Bastava coragem e solidariedade para viver a estética do cuidado. Foi desta forma que o lixo, aos poucos foi transformando-se em jardim.
A partir do encontro com aquele olhar, e a graça que ele inspirara, começou a recuperar em si a alegria de viver e acolher a vida com todos os seus desafios: o de aprender sempre, de melhorar sempre, de acreditar sempre. Desta forma a partir daquele olhar ele foi renascendo. Naquele momento recordara-se das palavras de Rubem Alves, eternizadas no tempo:
Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma. Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.
Aquele olhar gracioso transformou o rotulado: de traste, de lixo, em companheiro, em companhia. Revirando, amando, fez daquela alma que se via como um lixo, um jardim e agora passeava por ela e nela via belezas que só quem ama é capaz de enxergar! 
Havia resgatado belezas que o lixo, por muito tempo, sufocara!

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

No cinema, a cultura do descartável.

Ele como admirador da História sabia que os livros antigos e sagrados traziam consigo nas linhas ou nas entre linhas a afirmação: “nosso pais nos contaram...”. Ou seja a história de um povo, sua relações sociais, econômicas, sagradas, eram transmitidas de geração em geração, primeiramente de forma oral, depois escrita e com um alerta: “nossos pais nos contaram...”
Ouvira de professores sábios a seguinte profecia que saira dos duscursos do romano Cícero: Não saber o que aconteceu antes do teu nascimento seria para ti a mesma coisa que permanecer criança para sempre.
Naquele dia no cinema ele presenciara cenas de desprezo pelo passado e se preocupara com a geração que estava prestes a assumir lideranças. A palavra dos que viveram o passado e ajudaram a construir o presente era ignorada, como eram ignorada muitas vezes as palavras dos colegas e dele próprio. Os infantes não davam mais importância ao adágio: “...nossos pais nos contaram...”. Talvez por que os próprios genitores não tinham algo a contar, ou porque tal geração estava mais preocupada com a tecnologia presente, julgando-se assim deveras poderosa para ouvir aqueles que haviam vivenciado e feito história. A geração do descartável estava apŕendendo a descartar pessoas e histórias!
Na grande tela aquele dia viveu-se uma metáfora interessante, em um primeiro momento o passado era desprezado com algo sem vida, chato, desinteressante que aos olhos da nova geração nada significava, por isto o desprezo, a intolerância, a falta de respeito de muitos. Em um segundo momento via-se com certo grau de admiração o futuro fictício que talvez ninguém verá em forma presente, porque antes que o futuro tão admirado torne-se realidade, a nova geração tenha descartado tanto a natureza, a vida, pessoas, a própria história, que não tenha tempo suficiente para voltar a atenção para o passado e construir uma nova sociedade, onde respeito, tolerância, admiração pela vida, pelas pessoas, pelos construtores da história deem o tom para evitar erros possíveis e tragédias indesejáveis.
Assim ele chegara a uma conclusão triste: para grande parte da nova geração o presente é um vácuo de desrepeito pelo passado e sem nenhuma perspectiva para o futuro, sem perspecitva pois o Carpem Diem é vivido de forma negativa, vazio, descartável, sem dar ouvidos ao adágio milenar: ...e nosso pais nos contaram!

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

CARTA AO MEU PAI



            Olá,
            Quanto tempo! Lá se vão dezesseis anos que tu partistes. Saudade, velho! Você como diria o Boldrin, “foi fora do combinado!”
            Ontem andei vasculhado o passado, em um tal de youtube que torna o passado tão presente, vi o primeiro jogo que me lembro de ter assistido ao teu lado Brasil X Itália na Copa do Mundo de 82. Jogo memorável, triste, porém memorável. Depois daquele jogo, levaríamos doze anos para comemorar juntos, (foi nossa primeira e última comemoração de um título mundial da seleção) sobre a mesma Itália, naquela sofrida decisão por pênaltis, onde ao final, Baggio mais parecendo um jogador de futebol americano mandou a bola para cima! Foi o mote para nos abraçarmos feito loucos e não deu para conter às lágrimas. Vimos juntos o tão esperado tetra campeonato. Porém não vimos as vitórias e derrotas do Corinthians pós - 97 imagina, foi até campeão da libertadores e do mundo, quem diria?
            Penso que deves estar em um “Estado de Graça”, junto com Sócrates, o brasileiro, de quem eras fã, tomando uma cerveja, vez ou outra, assando uma costela, afinal me ensinaste desde de pequeno que para aqueles que tivessem um coração bom, independentemente de credo, Deus prepararia um banquete. Sempre tiveste um coração bom e aqui na terra uma costela bem assada era teu melhor banquete, imagino então que continuas a saborear algumas conversando com o “doutor” sobre “democracia”, a corinthiana e a política. Democracia da qual você sempre tinha algumas ressalvas e desconfianças.
            Quando partiste fui perdendo o gosto pelo futebol, do qual me ensinara a gostar demais e jogar de menos. O dia que ajudei carregar teu corpo e sepultá-lo, sepultei algo de mim. Mas toda sepultura tem ressurreição e ressuscitando continuei o caminho...
            Andei desistindo de alguns projetos, como por exemplo o de servir à Igreja, a qual amavas e me ensinou a amar. Desisti então de servir a Igreja como padre mas creio que fiz um serviço a própria instituição, hoje quando paro para “conversar” com Deus e com alguns “anjos” que ele colocou ao meu lado tenho a impressão que tomei a decisão correta, creio que minha pessoa prestaria um desserviço à Igreja e a Igreja precisa ser renovada no serviço, disse o Francisco, o de Buenos Aires, seguindo o exemplo do de Assis.
            Sabes que todos estes anos você fez falta. Cometi erros, mas sempre procurei acertar. Tornei-me professor e embora com todas as dificuldades do “ser professor” sinto-me em casa. Olho para a juventude e vejo meu passado ali. Levei tempo, assim como a maioria deles, para entender que estudar também pode ser um prazer.
            Não tenho filhos, pelo menos com meu sangue. Mas aprendi a querer bem aqueles que de alguma forma poderiam ser os meus. Uma sinuca aos sábados e discussões filosóficas e piadas partilhadas com eles não deixam de ser um exercício de paternidade!
            Hoje caminho refazendo a minha vida, e entendo que refazê-la é um processo lento, gradual. Descobri que amar é um exercício não de “mendigar”, mas de “partilhar”, sentimentos, alegrias e tristezas, sem isto não há amor, há sujeição. Entendo que amar é como um poema de Adélia Prado, ser sempre “noivo e noiva”!
            Refaço minha vida acreditando que ela tem uma finalidade, a pensada por Aristóteles: a felicidade. Se fosse resumir hoje esse caminho o faria com uma canção emprestada do Gonzaguinha que também deve estar participando da mesma festa na qual estás e cantaria assim:
Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira
Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também
E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé
Eu apenas queira que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida
           
            Para encerrar só queria dizer, que há dias em que volto ao passado, como no jogo Brasil X Itália de 1982 e tenho a sensação que tu nunca saíste do meu lado.
            Até um dia...


            CHICO TORRESMO.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

HÁ SEMPRE UM RECOMEÇAR NA LITURGIA DA VIDA

          

        




Ele, por muito tempo, andara meio perdido. Como o Milton, dos mil tons de Minas andava cantarolando:
 
 Solto a voz nas estradas, já não quero parar
 Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
 Sonho feito de brisa, vento vem terminar
 Vou fechar o meu canto, vou querer me matar

Roubando uma expressão do poeta do eterno, “na liturgia do tempo” vivera um imenso carnaval, tentado provar a si e aos outros que o seu fazer deveria ser valorizado. Esqueceu que quando se tenta provar algo fazendo muitas coisas, mata-se todo o ser que o sonho possa trazer. No “carnaval” de afetividades mal vividas, mal correspondidas mergulhara de cabeça, se tornara um ogro em carro alegórico. Esquecera-se de si para gritar o quanto necessitava dos ritos de  cumplicidades, mas os ritos escapavam pelas suas mãos. Daquele carnaval saíra machucado, ferido. Lembrou-se dos versos do poeta, o gaúcho Quintana. Versos que para ele era uma releitura da utopia que ele tanto desejara:
 
 Se as coisas são inatingíveis... ora!
 Não é motivo para não querê-las...
 Que tristes os caminhos, se não fora
 A presença distante das estrelas!

Neste lampejo poético resolvera mudar seu “tempo litúrgico” era necessário viver a “quaresma”, deserto, sede, reflexão, introspecção , enfim penitência. O tempo pedia que se encontrasse consigo, que revesse sua capacidade de autodestruição, mas também a sua capacidade de ressureição. Afinal o que é o tempo litúrgico da quaresma senão cinzas onde o ser humano tem a chance de renascer? Exercitar-se para vida, para ressurreição.
Resolveu renascer, se lembrou do quanto gostava da vida. Na penitência de haver errado, de entender que o fazer algo não traz como consequência a felicidade de outrem, resolveu cuidar de seu interior e descobriu que não era tão péssimo, tão tosco, tão chato, tão ruim quando imaginara, descobriu que as cinzas podem purificar, descobriu que mais do que fazer é necessário ser, e para ser é preciso sonhar. Seu tempo quaresmal havia mostrado que ressurgir era necessário e por mais que seus demônios interiores (aqueles do deserto) diziam que  ele era um sonhador, resolvera apostar nos valores que ele acreditara, preferiu a utopia: jogou-se aos sonhos para construir uma nova realidade!
Deste modo ao fim de seu tempo quaresmal, descobriu que o ser humano pode ser ressuscitado para o que já era considerado morto!

Bastava ter a atenção voltada a um olhar angelical e gracioso que alerta sempre:
 
“Por que procurais entre os mortos, aquele que está vivo”!
 
Neste "percurso litúrgico" ele redescobrira e ressuscitara em si a beleza  de cada tempo na graciosa   aventura da vida!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Mãe gentil ou Madrasta elitizada?



Sete de setembro de 1822. O principezinho metido a D. Juan lidera um movimento de elite e oficializa um processo que já havia começando com seu pai, o folclórico D. João VI. As margens do Ipiranga, D. Pedro, então, declara o Brasil independente. Independência das elites e para as elites. Afinal onde estava o populacho à hora do grito do Ipiranga? Assim se vão cento e noventa anos de “independência”. Onde uma elite seja de quartel ou de papel comanda a História da “mãe gentil”.
Elite que adora o  status quo, palanques, altares, luzes, ação e palmas
Estes tempos são os preferidos dos ufanistas e elitistas. Afinal é preciso honrar a independência da “mãe gentil”, porém que pátria é esta onde o trabalhador que move a economia tem que dar do fruto de seu trabalho quatro meses para pagar impostos? Impostos para quê e por quê? Já que alguma parte do montante que entra vai pelo ralo da corrupção elitizada, tucanada, petralhada, “multipartidarizada”!
Assim a Democracia, do dever de todos e privilégios de poucos, continua com a saúde precária, a educação deficitária, as estradas mortuárias, a terra latifundiária, etc.
Como na revolução dos bichos de Orwell fala-se em igualdade, fraternidade e liberdade, ideais herdados da revolução francesa, porém se os olhos voltarem-se para cima quando o desfile passar ver-se-á em vários palanques herdeiros da mesma oligarquia que proclamou a independência. Oligarcas, sim! Aristocratas nunca. Uma elite que toma conta do poder e faz dele um desserviço à Nação. Privilegiados de ocasião que confundem dinheiro com nobreza, e se esquecem que governar é servir e não vice-versa, sem confundir o público aos interesses privados. Porém tais oligarcas estão no poder à custa da popularidade caritativa, quase um simulacro, que lhes escondem a verdadeira identidade. Ainda mais em tempos eleitorais, onde para aquele que almeja o ardo caminho do poder vale a máxima do bom é velho “Old Nick”, autor de conselhos administrativos: Todos vêem o que pareces, poucos percebem o que és!
O pior que em sua volta há hostes de bajuladores que sabem o que querem e o porque estão ali!
Afinal, os bichos são iguais, porém uns mais iguais aos outros.
Igualdade para uns, liberdade para poucos, fraternidade por interesses.
Esta mistura faz da pátria amada, madrasta elitizada. Madrasta que inverte o papel materno e toma o “leite e mel” de seus filhos ao seu bel prazer, como nunca antes na história desta república de bananas e das bananas! Onde o populacho, mas uma vez celebra o grito do Ipiranga, porém permanece à margem da História!