quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

HÁ SEMPRE UM RECOMEÇAR NA LITURGIA DA VIDA

          

        




Ele, por muito tempo, andara meio perdido. Como o Milton, dos mil tons de Minas andava cantarolando:
 
 Solto a voz nas estradas, já não quero parar
 Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
 Sonho feito de brisa, vento vem terminar
 Vou fechar o meu canto, vou querer me matar

Roubando uma expressão do poeta do eterno, “na liturgia do tempo” vivera um imenso carnaval, tentado provar a si e aos outros que o seu fazer deveria ser valorizado. Esqueceu que quando se tenta provar algo fazendo muitas coisas, mata-se todo o ser que o sonho possa trazer. No “carnaval” de afetividades mal vividas, mal correspondidas mergulhara de cabeça, se tornara um ogro em carro alegórico. Esquecera-se de si para gritar o quanto necessitava dos ritos de  cumplicidades, mas os ritos escapavam pelas suas mãos. Daquele carnaval saíra machucado, ferido. Lembrou-se dos versos do poeta, o gaúcho Quintana. Versos que para ele era uma releitura da utopia que ele tanto desejara:
 
 Se as coisas são inatingíveis... ora!
 Não é motivo para não querê-las...
 Que tristes os caminhos, se não fora
 A presença distante das estrelas!

Neste lampejo poético resolvera mudar seu “tempo litúrgico” era necessário viver a “quaresma”, deserto, sede, reflexão, introspecção , enfim penitência. O tempo pedia que se encontrasse consigo, que revesse sua capacidade de autodestruição, mas também a sua capacidade de ressureição. Afinal o que é o tempo litúrgico da quaresma senão cinzas onde o ser humano tem a chance de renascer? Exercitar-se para vida, para ressurreição.
Resolveu renascer, se lembrou do quanto gostava da vida. Na penitência de haver errado, de entender que o fazer algo não traz como consequência a felicidade de outrem, resolveu cuidar de seu interior e descobriu que não era tão péssimo, tão tosco, tão chato, tão ruim quando imaginara, descobriu que as cinzas podem purificar, descobriu que mais do que fazer é necessário ser, e para ser é preciso sonhar. Seu tempo quaresmal havia mostrado que ressurgir era necessário e por mais que seus demônios interiores (aqueles do deserto) diziam que  ele era um sonhador, resolvera apostar nos valores que ele acreditara, preferiu a utopia: jogou-se aos sonhos para construir uma nova realidade!
Deste modo ao fim de seu tempo quaresmal, descobriu que o ser humano pode ser ressuscitado para o que já era considerado morto!

Bastava ter a atenção voltada a um olhar angelical e gracioso que alerta sempre:
 
“Por que procurais entre os mortos, aquele que está vivo”!
 
Neste "percurso litúrgico" ele redescobrira e ressuscitara em si a beleza  de cada tempo na graciosa   aventura da vida!