Ele,
por muito tempo, andara meio perdido. Como o Milton, dos mil tons de Minas
andava cantarolando:
Solto a voz nas estradas, já não quero
parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu canto, vou querer me matar
Roubando
uma expressão do poeta do eterno, “na liturgia do tempo” vivera um imenso
carnaval, tentado provar a si e aos outros que o seu fazer deveria ser
valorizado. Esqueceu que quando se tenta provar algo fazendo muitas coisas,
mata-se todo o ser que o sonho possa trazer. No “carnaval” de afetividades mal
vividas, mal correspondidas mergulhara de cabeça, se tornara um ogro em carro
alegórico. Esquecera-se de si para gritar o quanto necessitava dos ritos de cumplicidades, mas os ritos escapavam pelas suas mãos.
Daquele carnaval saíra machucado, ferido. Lembrou-se dos versos do poeta, o gaúcho
Quintana. Versos que para ele era uma releitura da utopia que ele tanto desejara:
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
Neste
lampejo poético resolvera mudar seu “tempo litúrgico” era necessário viver a “quaresma”,
deserto, sede, reflexão, introspecção , enfim penitência. O tempo pedia que se
encontrasse consigo, que revesse sua capacidade de autodestruição, mas também a
sua capacidade de ressureição. Afinal o que é o tempo litúrgico da quaresma
senão cinzas onde o ser humano tem a chance de renascer? Exercitar-se para vida, para ressurreição.
Resolveu
renascer, se lembrou do quanto gostava da vida. Na
penitência de haver errado, de entender que o fazer algo não traz como consequência
a felicidade de outrem, resolveu cuidar de seu interior e descobriu que não era
tão péssimo, tão tosco, tão chato, tão ruim quando imaginara, descobriu que as cinzas
podem purificar, descobriu que mais do que fazer é necessário ser, e para ser é
preciso sonhar. Seu tempo quaresmal havia mostrado que ressurgir
era necessário e por mais que seus demônios interiores (aqueles do deserto) diziam que ele era um
sonhador, resolvera apostar nos valores que ele acreditara, preferiu a utopia: jogou-se aos sonhos para construir uma nova realidade!
Deste modo ao fim de seu tempo quaresmal, descobriu que o ser humano pode ser ressuscitado para o que já era considerado morto!
Deste modo ao fim de seu tempo quaresmal, descobriu que o ser humano pode ser ressuscitado para o que já era considerado morto!
Bastava ter a atenção voltada a um olhar angelical e gracioso que alerta sempre:
“Por que procurais entre os mortos, aquele
que está vivo”!
Neste "percurso litúrgico" ele redescobrira e ressuscitara em si a beleza de cada tempo na graciosa aventura da vida!