à M.H. "jardineira fiel" .
Ele, embora sempre acreditando no amor, perdera a esperança, virtude
vital para encontrar o dom que tanto desejava! Afinal, por acreditar em apenas uma versão
de si mesmo acabara por se considerar indigno do amor, indigno de
amar! Sua medida por muito tempo foi a do rótulo que lhe deram por
ai: “traste”. Sentido-se um lixo recolheu-se em sua
insignificância!
O ostracismo ao qual se condenara o fazia remoer tudo que lera e escutara
ao seu respeito, e aquela atitude solipsista o fez acreditar que de
fato era preciso esperar o tempo passar e desistir de ser feliz! Mas
a atitude cartesiana do puro pensamento, de pura consciência
separada do “mundo da vida” pode criar meditações que além de
metafísicas são destrutivas.
Mas de repente, não mais que de repente deparou-se com um ser que
o olhava diferente e sem falar absolutamente nada repetia a frase de
Guimarães Rosa: Infelicidade é uma questão de prefixo.
O
olhar além de físico tem uma categoria metafísica transformadora
que pode construir ou destruir. Aquele olhar inspirou a relação EU e TU. Assim medrosamente ele acolheu aquele
olhar e mansamente foi saindo de seu solipsismo cartesiano e começou
a atirar-se em uma alteridade salvadora. Aos poucos falou de si,
ouviu outrem. Disse no que acreditava, mas tinha medo de acreditar.
Mas acreditar era preciso, necessário. Corajosamente lançou-se com
fé.
Sua
fé foi quebrando os próprios rótulos. Não era perfeito, mas não
era o lixo que o fizeram parecer. Era necessário revirar o barro,
mexer na terra, regar com graça para que o jardim aparecesse. Foi
isto que fez aquele olhar gracioso: o fez perceber que do lixo, se bem revirado, poderia fazer nascer um jardim. Bastava coragem e
solidariedade para viver a estética do cuidado. Foi desta forma que
o lixo, aos poucos foi transformando-se em jardim.
A partir do encontro com aquele olhar, e a graça que ele inspirara,
começou a recuperar em si a alegria de viver e acolher a vida com
todos os seus desafios: o de aprender sempre, de melhorar sempre, de
acreditar sempre. Desta forma a partir daquele olhar ele foi renascendo.
Naquele momento recordara-se das palavras de Rubem Alves, eternizadas
no tempo:
Todo jardim começa com uma história de amor, antes que
qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que
eles tenham nascido dentro da alma. Quem não planta jardim por
dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.
Aquele
olhar gracioso transformou o rotulado: de traste, de lixo, em companheiro, em
companhia. Revirando, amando, fez daquela alma que se via como um
lixo, um jardim e agora passeava por ela e nela via belezas que só
quem ama é capaz de enxergar!
Havia resgatado belezas que o lixo, por
muito tempo, sufocara!
Ótimo texto! Parabénsss!
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