terça-feira, 7 de outubro de 2014

O LIXO TRANSFORMADO EM JARDIM




à M.H. "jardineira fiel" .

Ele, embora sempre acreditando no amor, perdera a esperança, virtude vital para encontrar o dom que tanto desejava! Afinal, por acreditar em apenas uma versão de si mesmo acabara por se considerar indigno do amor, indigno de amar! Sua medida por muito tempo foi a do rótulo que lhe deram por ai: “traste”. Sentido-se um lixo recolheu-se em sua insignificância!
O ostracismo ao qual se  condenara o fazia remoer tudo que lera e escutara ao seu respeito, e aquela atitude solipsista o fez acreditar que de fato era preciso esperar o tempo passar e desistir de ser feliz! Mas a atitude cartesiana do puro pensamento, de pura consciência separada do “mundo da vida” pode criar meditações que além de metafísicas são destrutivas.
Mas de repente, não mais que de repente deparou-se com um ser que o olhava diferente e sem falar absolutamente nada repetia a frase de Guimarães Rosa: Infelicidade é uma questão de prefixo.
O olhar além de físico tem uma categoria metafísica transformadora que pode construir ou destruir. Aquele olhar inspirou a relação EU e TU. Assim medrosamente ele acolheu aquele olhar e mansamente foi saindo de seu solipsismo cartesiano e começou a atirar-se em uma alteridade salvadora. Aos poucos falou de si, ouviu outrem. Disse no que acreditava, mas tinha medo de acreditar. Mas acreditar era preciso, necessário. Corajosamente lançou-se com fé.
Sua fé foi quebrando os próprios rótulos. Não era perfeito, mas não era o lixo que o fizeram parecer. Era necessário revirar o barro, mexer na terra, regar com graça para que o jardim aparecesse. Foi isto que fez aquele olhar gracioso: o fez perceber que do lixo, se bem revirado, poderia fazer nascer um jardim. Bastava coragem e solidariedade para viver a estética do cuidado. Foi desta forma que o lixo, aos poucos foi transformando-se em jardim.
A partir do encontro com aquele olhar, e a graça que ele inspirara, começou a recuperar em si a alegria de viver e acolher a vida com todos os seus desafios: o de aprender sempre, de melhorar sempre, de acreditar sempre. Desta forma a partir daquele olhar ele foi renascendo. Naquele momento recordara-se das palavras de Rubem Alves, eternizadas no tempo:
Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma. Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.
Aquele olhar gracioso transformou o rotulado: de traste, de lixo, em companheiro, em companhia. Revirando, amando, fez daquela alma que se via como um lixo, um jardim e agora passeava por ela e nela via belezas que só quem ama é capaz de enxergar! 
Havia resgatado belezas que o lixo, por muito tempo, sufocara!

Um comentário: