quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Encantar-se






 Naquela manhã acordara e fora impactado com a notícia que um avião caíra nas montanhas da Colômbia, a terra do realismo fantástico de Garcia Marquéz. Acidentes acontecem, tragédias acontecem. A morte ronda a vida como uma irmã, como já alertara Francisco, o de Assis.
No avião estava a tribo de Condá que ia à batalha nos campos de futebol em busca da glória!
Ele que desde a copa da Espanha em 1982 aprendera a gostar do futebol quis entender aquilo... Seu pai lhe contara do time do Torino que tivera o mesmo destino em 1949 e agora ele presenciara tragédia semelhante.
Racionalmente buscara compreender que a existência é feita também de tragédias, mas era impossível, como admirador do futebol e especialmente da vida não se perguntar o “por quê?” mesmo sabendo que não haveria respostas.
Mas o fato o relembrara algumas lições.
A primeira delas,  “a vida é breve, a arte é longa” , como diriam os clássicos latinos. A vida é frágil, não há certeza que ver-se-á o sol nascer amanhã, apenas crê-se por hábito que sim como quisera inferir Hume, o filósofo cético. Portanto há várias probabilidades de que a vida seja realmente muito breve...
Outra lição, todos os problemas da vida são pequenos diante da tragédia, tragédia que nem sempre se percebe mas que está sempre ao nosso redor, seja ela afetiva, somática, política ou aquela que ceifa a vida, essa última traz a dor mais lancinante e diante dela calam-se todos os humanizados, pois nas palavras do poeta: A morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte da humanidade; eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim.
Aquela manhã triste lhe renovara na mente algumas lições e questionamentos que ele quis racionalmente responder através da lógica heideiggeriana que afirmara que o ser humano é “um ser-para-a-morte”,  lógica que o lembrara  que humanos são como os gladiadores romanos, na arena do mundo já entram dizendo ao imponderável: morituri te salutant, (os que vão morrer te saudam). Porém não quis aceitar a lógica fria da filosofia... 
Com os olhos marejados por aqueles que partiam preferiu lembrar a poesia extraordinária de Guimarães Rosa “A gente não morre. Fica encantado”. 
Nas montanhas mágicas de Gabriel Garcia Marquéz os guerreiros juntaram-se a Condá e  se encantaram, para sempre vão estar na memória e no coração dos que ficam, por um tempo incerto, no palco do mundo!

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Meus amigos, meus heróis




Mudanças? Quem quer dança e luta!
Meus amigos, meus heróis querem mudanças.
Dançam e não fogem da luta.
Querem mudanças mas não impostas por cabeças ignotas!
Querem discutir, debater, ler
Sem catecismos ou doutrinação
Foram para ação!
Aos educadores deram a lição
“Ninguém pode vencer trancado em seus egoísmos ou próprios interesses…”
Todos devem escolher seu lado sem covardia, com galhardia”.
Pois se não os chamaram à mesa dialética para discutir a educação é porque a oligarquia  não tem ética.
Assim, a juventude  entrou nas escolas com nobreza, coragem e beleza e fizeram delas extensão da sua casa pois, (parafraseando o poeta) a escola é do povo, assim como o céu é do condor
Por isso ali não há baderna, há uma ocupação fraterna, que avisa:
“Não há um ensino onde para alguns o pão, a outros as migalhas”.
Se a tirania voltou, democraticamente as escolas foram tomadas!
“Educação sem divisão, com equidade, com a mesma oportunidade”!
Diz o simbolismo da ocupação!
Assim, meus amigos, meus heróis, a vós uma reverência sincera, nas palavras do Milton Nascimento, de voz angelical que nos seus versos traz os mil tons da luta,
Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Tantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor e fruto
frutos da coragem de vocês,
meus amigos, meus heróis!

domingo, 4 de setembro de 2016

STRANGER THINGS E OS SABORES DA INFÂNCIA



Ouvira dos amigos que aquela série era uma das melhores produzidas pela “Netflix”...coisas estranhas!
Arriscaria, afinal os tempos eram de “coisas estranhas”...de ódio mútuo, de pessoas se digladiando nas redes sociais, enquanto o “rei estava nu”. A história se repetira como tragédia...coisas estranhas!
Fora então para a TV e lá vira Stranger Things. Ficara encantado como as crianças, com cenas que faziam reminiscências a década de 80 (que ouvira de seus alunos fora uma década perdida economicamente, os alunos dele eram bem informados nas redes sociais...coisas estranhas)
Coisas estranhas é o que sentira ao ver a série. Lembrara da infância, tentou manter a distância e viver o presente e só o presente...”o passado já era, o futuro não existe” pensara de forma estoica, mas a série derrubou a máscara estóica.
Aquelas reminiscências o fizeram voltar pelo menos trinta e cinco anos no tempo, como no universo paralelo de Stranger Things, se vira na “vila pobre” bairro de uma pequena cidade do interior onde morava sua avó, a “vila pobre” deveria chamar-se “vila feliz”, mas já naquele tempo, os seres humanos já confundiam felicidade como poder aquisitivo… coisas estranhas!
Lembrara-se de como as tardes de domingos eram intensas...poeira levantado na rua sem asfalto, efeito do jogo de “bets”, molecada correndo suja pelas ruas, sem se importar se a inflação estava acabando com o salário dos pais, se o amigo era evangélico, católico, umbandista…eram amigos!
Tucano era só uma pássaro bicudo, coxinha era o que adorava-se comer com pimenta, irmãos metralha eram os vilões de Disney e vermelho era a goiabada que costumávamos passar no pão caseiro, feito no forno de barro da avó que sempre gostava da casa cheia! Hoje o vermelho pode levar a hermenêutica do ódio e depende onde você estiver corre o risco de apanhar...coisas estranhas!
Lembrou-se do velho “Jipe” do avô, apreciador de Brahma, não do deus hindu, mas da cerveja mesmo… Nas tardes de domingo colocava a “netaiada” naquele meio de locomoção e descia a toda (anjos da guarda existem...pensara ele ao lembrar daquelas descidas) a estrada que levara ao seu sítio, o “sítio do vô” e lá passava-se parte das tardes de domingo.
Hoje cuidar da vida para alguns parece ser um “peso existencial” ...coisas estranhas!
Por fim, ao ver stranger things pensara naquilo que os alunos chamaram de década perdida, e chegara a conclusão que podem dizer o que for da década de oitenta, podem condená-la economicamente, podem riscá-la da história, mas para os que a viveram como crianças é impossível não pensar que “coisas estranhas” acontecem no aqui e agora quando tudo que é “sólido se desmancha no ar”
“...eram estranhos” dirão os que olharem para aquela infância, “éramos felizes” dirão os que viveram aqueles tempos!

quarta-feira, 2 de março de 2016

Carta aos quarenta









Chegastes...Cheguei
Há tempo para tudo debaixo do céu, diz o Eclesiastes,
Olhando o tempo repito os versos de Álvaro de Campos, uma pessoa do Pessoa:
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Sonhos, quantos tive? Inúmeros
Poucos realizei.
Mas isso não é um arrependimento, é uma constatação.
A vida é feita de escolhas. Não é feita de “ah se...”
Condicionais não fazem a vida.
As condições? Talvez.
Penso na morte...como companheira de jornada.
Parece-me mais próxima, essa proximidade porém qualifica a vida.
Hoje desejo viver intensamente cada minuto que me é permitido.
Entendo melhor o conceito de graça!
Pedir...nada mais.
Apenas agradecer aquilo que me é oferecido.
Ter alegria de viver e não ter a vergonha de ser feliz.
O desafio de tentar ser melhor a cada instante.
O prazer de voltar ao lar e contemplar o rosto acolhedor da pessoa amada,
Minha amiga e companheira no infinito de nós dois.
A vida se mostra madura
Hora de revisar, olhar para o tempo passado , perdoar-se, perdoar...e continuar
Viver o presente...que é o melhor “presente”.
Pois o futuro é uma incógnita, como na canção de Toquinho:
uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Quarenta anos seja bem vindo…
morituri te salutant,
pois , Viver é perigoso!



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Tempus Fugit



homenagem à quem, por falta de tempo, teve que partir...

O tempo nem sempre é gracioso como desejamos…
Na maioria das vezes, ele nos devora e apavora como no mito grego!
Hoje ele nos apavora...Sabemos que você se vai por falta de tempo!
Esse tempo do qual não somos senhores ou senhoras!
E nós que ficamos perderemos o tempo gracioso de estar com você…
Com seu caráter sempre firme.
Com sua postura correta.
Com sua competência em ser o que é!
O tempo nos devora…
Mas nunca esqueceremos o tempo gracioso que você esteve conosco.
Na atividade cotidiana de educar, mas também na atividade extraordinária de celebrar a vida!
Tempo gracioso de convivência que certamente nos fez melhores, esse tempo é eterno e inesquecível, pois fixou-se em nossas memórias.
Como Milton Nascimento queríamos cantar:
“Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver
Forte sou, mas não tem jeito, hoje tenho que chorar...”
Por isso o tempo passado conosco, não passará.
Foi um tempo de graça, que superou toda a cronologia,
as lágrimas que trazem à tona a saudade e a vontade de eternizar cada momento nos faz repetir Adélia Prado,
“O que a memória amou tornou-se eterno”!