quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

ENTRE O SER E O NADA




Naqueles dias sombrios ele pensara em fugir para as montanhas. Como as montanhas lhe faziam bem. Sentia-se perto de Deus. Aliás, sempre sabia que Deus estava com ele, ele é que sempre achava uma maneira, à maneira dos profetas, de fugir de Deus. Aquele coração queria ser feliz, e percebera que a felicidade estava lhe escapando às mãos. Para aquele coração cansado, isto representara um problema. Afinal, acreditava como Aristóteles que ser feliz era a finalidade da vida e lutava para conquistá-la. O problema é que ele, idealista que era, esquecera-se um pouco da realidade e projetara todo sentimento em algo ilusório, algo que ele pensara ser e verdade e o caminho para a felicidade A fantasia que ele projetara deveria trazer-lhe mais problemas do que resolvê-los. Pensando nas montanhas, percebeu que felicidade não poderia ser projetada, deveria ser conquistada no chão da vida. Sofreu, deixou tudo subentendido, mas calou-se. Sábio, pelo menos, naquele momento não revelou o que se passava em seu íntimo, simplesmente observou e percebeu que deveria manter-se calado, como quem ouve uma sinfonia, pois sua projeção de felicidade era apenas “0,01%” do que sonhara, o resto era uma realidade que certamente traria um peso maior, ele aprendera com os sábios que “não deveria trair seus ideais” para tentar ser feliz... Assim como os estóicos resolvera “esperar menos, e amar mais”. Amar era transformar sua realidade, por mais difícil que  fosse, em uma verdade bela, boa e bonita. Neste contexto o desejo de fuga para montanha, o colocara de volta à planície, onde ele certamente lutaria pela felicidade que tanto almejara.


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

PABLO NERUDA

Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,
ya no se endulzará junto a ti mi dolor.

Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
y hacia donde camines llevarás mi dolor.

Fui tuyo, fuiste mía. Qué más? Juntos hicimos
un recodo en la ruta donde el amor pasó.

Fui tuyo, fuiste mía. Tu serás del que te ame,
del que corte en tu huerto lo que he sembrado yo.

Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy.

...Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y yo le digo adiós.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sobre meninos e hienas....


Uma das qualidades mais admiráveis em um homem é reconhecer-se humano: com alegrias, dores, explosões e crises existenciais. Entender, como diz a canção, "a alegria e a dor de ser  o que se é". Há pessoas que  não se humanizaram, pensam e agem como hienas, diz Fabrício Scalzer, um pensador virtual: "O sorriso da HIENA confunde... será deboche ou apenas desabafo? Coitado do bicho! Ri da própria desgraça... come o RESTO que OUTROS já comeram. ANIMAL ou não... um PALHAÇO é sempre um PALHAÇO". Estes debochados pensam ser melhores que os outros. Não têm a coragem necessária para "ser o que se é". Como em um teatro grego escondem-se por trás da máscara que criaram e tornam-se insuportáveis, miseráveis, inumanos. Tornam a convivência um inferno. São no verdadeiro sentido da palavra "diabólicos" , dividem, mentem, desfocam o projeto essencial e existencial.  Por vezes conseguem tirar a paz dos tolos que se deixam levar por tais atitudes. Estes seres deveriam desconfiar de si próprios e perceber que se não precisam dos outros para viver, pelo menos que não perturbassem a paz de quem quer viver bem. Querem assim como na narrativa das tentações que os outros se prostem diante deles como se fossem dignos de adoração e veneração, (atitude diabólica) e apenas são dignos de pena, que é o pior do sentimentos que alguém possa ter. Como no mito de Narciso se afogam na própria imagem que "divinizaram" e acreditam  do alto de sua arrogância que nunca serão derrubados! O pior é que se forem tratados  com indiferença estes tipos de seres humanos, inumanizados, tomarão conta do mundo, como hienas tomam conta das carniças que sobram ao final da carnificina, e como diria Luther King: "O que me assuta não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons". Não dá para silenciar diante de fatos onde o inumano, o diabólico, se sobrepõe a projetos de educação, humanização, e de uma sociedade mais justa e solidária! Desculpem os defensores da polidez, que faz bem e dignifica o humano, mas, vez ou outra, um grito é fundamental!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Requiem ad amoris

Nada a dizer, apenas um olhar
O ser  maravilha-se com lembranças
Como pode ser tão bobo o coração do homem?
Ri de si ao ler o Pessoa
Ah o coração deveria pensar:
Mais...”se o coração pudesse pensar, pararia”.

O humano é mesmo incoerente
Denota sorriso e quase sempre indiferença, por que?
Indigna-se coração, afinal o ser humano é uma metamorfose...
Carinho, afago, alento...nada disso, apenas indiferença.
Ah...tolo coração
Lamenta  ter nascido
Pobre o coração que amou!

Estar só é a melhor solução ...
Nada a dizer, nada a falar, nada a pedir
Imprestável razão, para que serves em momentos assim?
Loucuras não sana!  És pobre de Espírito
E não entendes nada de esperança.
Karl Jaspers, Gabriel Marcel, às avessas:
A razão mata a esperança, pois inverte a lógica do princípio da imortalidade, pois diz:
Jaz aqui um coração que amou, e dizer “amar” e condenar-se a própria morte.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

AMOR EM TEMPOS DE PROZAC


Definir o amor? Difícil. O que é amar. Diz André Comte-Sponville:
“Amar é aceitar, suportar quando preciso.
Alegrar-se quando se pode.
Sabedoria trágica é a única que não mente”.

Sabedoria trágica...Os gregos entendiam que o amor manifestava-se de três maneiras, pela amizade, pela paixão e pela totalidade. Amar é algo que se cultiva. O que não se cultiva morre. A paixão, por exemplo, é arrebatadora, como uma onda gigante destrói, machuca e fere, porém é um paradoxo, faz bem e deixa saudade. E...como é bom sentir saudade dos momentos bons que a paixão proporciona. Mas apaixonar-se não basta, é preciso cultivar a paixão, transformá-la em amor para atingir a totalidade. Todos querem ser amados, mas poucos conseguem manifestar o sentimento de cultivo que o amor exige. Há os que só exigem, só cobram e não aceitam ser cobrados ou exigidos. Estagnam no campo da paixão, passa a paixão, passa o “tesão”, não sobra nada. O outro deixa de ser sujeito e passa a ser objeto. Estes apaixonados de ocasião seguem o lema do poetinha: “Seja eterno enquanto dure...”. Mas quem pode dizer que estão errados? No período que alguns teóricos chamam de pós modernidade, o ser humano também pode ser visto como utilizável às vezes, descartável sempre. É a tendência do amor que apaixona-se e desapaixona-se:  “Afinal, chato são os outros”, ou como diria Sartre: “O outro é meu inferno”.
Para sair do “inferno” é preciso olhar com o coração, somente o coração é capaz de enxergar o essencial, pois na essência do amor o ser humano é capaz de entrega-se sem reserva, de sorrir ao lembrar-se do ser amado, não se entendia, não se enche de orgulho, perdoa, compreende, não cultiva ciúmes, porque confia, enfim o amor cultivado depois da paixão pode construir, tornar-se eterno, permanecer, já poetizara Paulo, o apóstolo, na carta aos Coríntios. Mas este amor...ah, este amor não tem lugar no mundo pós moderno. Afinal vivemos em um mundo de belezas fabricadas, de cartões de crédito, de rede sociais, que, são bons em sua essência, porém seqüestram o tempo, o diálogo, o olhar do outro. Seqüestra o ser humano de si mesmo. Como já bem escreveu o poeta do eterno. Relacionar-se com o capital e o virtual torna-se menos complicado, e menos comprometedor do que relacionar-se com o real, com aquilo que desafia a todos a descobrir suas potencialidades e suas fraquezas. O amor, sabedoria trágica! Fugir de tal sentimento torna a vida mais fácil, pois abraçar o amor com todas as suas nuances pode tornar a vida angustiante demais, e afinal em tempos de PROZAC quem quer enfrentar a angústia do desafio de amar e ser amado?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Olhares, partidos e posições

Não há fatos eternos, como não há verdades absoluta
Nietzsche 

Como o tempo o olhar torna-se mais astuto. Diz o filósofo francês Gilles Deleuze que a sabedoria vem com o tempo. A idade da filosofia pode ser, de fato, a velhice. O tempo que não para e nos devora mostra que existem olhares e olhares. Algumas pessoas menos temperadas tomam posições radicais sem nenhuma reflexão, tem um olhar inviesado à esquerda. Outros nunca tomam posição de olhar, fingem não ver.Outros são aqueles que estão por demais ao centro, tem um olhar "muresco", concordam com Nietzsche, os fatos são relativos, as verdades não são absolutas, daí deixam o "circo pegar fogo" e depois tomam partido, e é claro partido que os favoreçam sem serem prejudicados. Lembram o partido do "pântano" na revolução francesa. Nem esquerda, nem direita. São centro, são "birutas" vão com o vento favorável. A sabedoria diz que deve-se calar, mais do que falar. Mas seres sem posicionamento correm o risco de ficar fora da história, mesmo que a história não valoriza os anôminos, do qual a grande maioria faz parte. Porém anonimato sem coragem, torna-se covardia. Em tempos de corrupção, de cônchavos, de falsidade exacerbadas é necessário, mesmo como anônimos que nunca aparecerão na História Oficial, ter um posicionamento, afinal lembrando Brechet: Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos, e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida, esses são os imprescindíveis. Logo a luta não permite um "olhar muresco", tal olhar pode conduzir a perder o bonde da História, mesmo que nesta história não exista "fatos eternos"
.


quinta-feira, 28 de julho de 2011

O BÊBADO E AS EQUILIBRISTAS.



...E um bêbado trajando luto imitou Carlitos.


Era uma tarde bela. Assim como todas as tardes de inverno. Entre amigos, ele ainda se sentia só. Amava a vida, amava os amigos porém naquela tarde estava triste. As lembranças o sufocavam. Tentava se equilibrar. Resolveu beber. E como bebia. Parecia uma esponja. Lembrava das escolhas que fizera. Não se arrependera, mas tudo lhe parecia triste. A melhor e a pior lembrança lhe aparecera personalizada em uma manhã de trabalho e como aquilo lhe machucara. Imaturo resolvera beber. As amigas equilibristas ouviram suas historias, umas verdadeiras, outras desejos inconscientes que a bebida trouxera à tona. E como suportaram aquela cena triste!
Queria naquele momento voltar a passado e refazer suas escolhas, ter coragem de dizer tudo que lhe angustiava, mas precisava beber.  O mundo triste era inspiração para pensar a vida e seus desdobramentos.
De certa forma agradecera por aquelas amigas equilibristas, suportaram aqueles gestos largos, quase desesperados, de quem queria mesmo era amar e não beber, queria apenas colo, pijama e carinho. Coisas do menino carente, que via à tona no corpo cansado do homem, que fizera da filosofia sua vida, mas gostava mesmo era da poesia que liberta a alma para o cuidado e a responsabilidade que gera cumplicidade e amor. O bêbado queria mesmo era ser amado. Pois o amor é pressuposto básico para a cura.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Bom Dia, Angústia ! - By André Comte-Sponville



Por que alguma coisa em vez de nada ?
Por que isto em vez de outra coisa ?
Eu em vez de outro ?
Viver em vez de morrer ?
Assim e não de outra maneira ?

Mas ninguém para salvar e é a própria salvação.
É preferir dizer o mal que é do que o bem que não é.

A Moral não pertence a ninguém.
Mas a esquerda não a pode dispensar enquanto a direita
como tal, não precisa dela.

O que o dinheiro nos ensina não é que somos egoístas,
mas a que ponto somos.
O valor de um ser humano, sua dignidade é o que nele não está a venda, o que não tem preço. Se tudo se vende é porque nada vale.

Como o coração humano é oco e cheio de lixo.

O dinheiro não é um bem dentre outros, é o equivalente a todos. Não é um bem real, é o acesso indefinido a todos os bens possíveis. Não é, ou não somente, uma posse presente é a posse antecipada do futuro.
O dinheiro que temos é a promessa de tudo que teremos.
Já o usufruímos no imaginário pelo que a riqueza é também um prazer.
Ser rico é usufruir no presente de todo futuro disponível.

No entanto, mas vale amar o dinheiro pelo descanso que ele permite do que por aquele que ele faz perder.

Um gosto de morte, um gosto de solidão, um gosto de verdade, um gosto de vaidade, um gosto de decepção, um gosto de cansaço, um gosto de lassidão e tudo se mescla com os prazeres, envolve-os, acompanha-os, mascara-os ou ressalta-os conforme os momentos.

O corpo é um bom juiz e o único.

Não se morre uma vez, afinal de contas, morre-se todos os dias, cada instante de cada dia. A criança que eu era está morta no adulto que me tornei, aquele que eu era ontem está morto hoje ou sobrevivem em mim apenas na medida em que lhes sobrevivo, cada qual transporta seu cadáver consigo e jamais retornarão os amores antigos.

Nenhum SE é real.

O amor decepciona, a política decepciona, a arte decepciona, a filosofia decepciona. Pelo menos decepcionam primeiro e por muito tempo até o dia em que os amamos pelo que são, pelo que realmente são, pelo que são apesar de tudo e já não pelo que se tinha esperado deles.
Não se trata de acreditar.
Trata-se de conhecer e amar.

TODA ESPERANÇA É DECEPCIONADA SEMPRE !!!!!!
Só existe felicidade inesperada.

Amar é aceitar, suportar quando preciso
Alegrar-se quando se pode
Sabedoria trágica é a única que não mente.

Felicidade e infelicidade
Vida e morte
Prazer e sofrimento

Aquele que só amasse a felicidade não amaria a vida e com isso se proibiria de ser feliz. A vida não é um supermercado cujo os clientes seríamos nós. O universo nada tem para nos vender e nada diferente para oferecer senão ele próprio, nada diferente senão tudo.

Como a vida tem gosto de felicidade assim a felicidade tem gosto de desespero.
A vida é o contrário de uma utopia.
A vida é o conjunto das funções que resistem a morte.

quarta-feira, 2 de março de 2011

ONDE DEUS POSSA ME OUVIR - BY VANDER LEE



Sabe o que eu queria agora, meu bem...?


Sair chegar lá fora e encontrar alguém

Que não me dissesse nada

Não me perguntasse nada também

Que me oferecesse um colo ou um ombro

Onde eu desaguasse todo desengano

Mas a vida anda louca

As pessoas andam tristes

Meus amigos são amigos de ninguém.



Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?

Morar no interior do meu interior

Pra entender porque se agridem

Se empurram pro abismo

Se debatem, se combatem sem saber



Meu amor...

Deixa eu chorar até cansar

Me leve pra qualquer lugar

Aonde Deus possa me ouvir

Minha dor...

Eu não consigo compreender

Eu quero algo pra beber

Me deixe aqui pode sair.



Adeus...

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O SONO DA RAZÃO


Ele aprendera, não sem lágrimas, que aos outros se deve respeito e também senso crítico com responsabilidade e ética. Tornara-se professor por opção e dedicação. Não era um dos melhores em sua área, porém lutava para não ser medíocre, pois para ele, a única coisa inaceitável em alguém era justamente a mediocridade. Coisa que aprendera não com os filósofos, mas com os sábios, que diferente dos filósofos não precisam de livros. Porém naquela manhã se sentira um inútil. Sentira-se incapaz frente à indiferença daqueles jovens que estavam ali. Diante de uma das músicas mais populares da cultura nacional  e de um dos poemas mais densos da literatura brasileira que podiam levar os alunos à sabedoria e não à filosofia, ele simplesmente encontrou sarcasmo. Perplexo, como aprendiz de filósofo que era, pensou: "estão rindo do quê? rindo por quê?" Ficou sem resposta. Apenas lembrou-se de Frejat: "...rir de tudo e desespero". Quis encontrar respostas e não conseguiu. Apenas ficou pasmo e desesperado, pois via-se no mundo sem referências, onde tudo era motivo de riso, não um riso de felicidade, mas de sarcasmo. Sarcasmo de ignorância, sarcasmo de indiferença, sarcasmo diante da atriz, dos poetas, que infelizmente foram interpretados como patetas. Assim como na poesia ele perguntara a si próprio: "E agora, José?". Percebia que as melhores referências da vida iam morrendo. Este era o cenário: a indiferença pelo outro, o egocentrismo de alguns que acreditavam ser melhores que outros, a falta de inteligência, ou de preguiça intelectual em perceber a beleza ali representada. Aquilo, infelizmente era um cenário de muitas mortes. A preguiça intelectual impedira o assombro, pressuposto filosófico por excelência, e provocara o riso sarcástico e não dramático, típico daqueles que tem medo de lançar-se à aventura do saber, porque tem muito a esconder, principalmente a própria ignorância. Porém, ele inserido em um cenário de muitas mortes, acreditava no ser humano e esperava humana e teologicamente  na ressurreição: da beleza, da arte e da fé. Fé no ser humano, que nas situações mais simples e belas, como aquele monólogo que estava sendo apresentado, parecia tão indiferente, não só a arte, mais também a própria ignorância e ao sono da própria razão, o que é muito perigoso, pois, como no quadro de Goya, o "sono da razão produz monstros".