sábado, 26 de fevereiro de 2011

O SONO DA RAZÃO


Ele aprendera, não sem lágrimas, que aos outros se deve respeito e também senso crítico com responsabilidade e ética. Tornara-se professor por opção e dedicação. Não era um dos melhores em sua área, porém lutava para não ser medíocre, pois para ele, a única coisa inaceitável em alguém era justamente a mediocridade. Coisa que aprendera não com os filósofos, mas com os sábios, que diferente dos filósofos não precisam de livros. Porém naquela manhã se sentira um inútil. Sentira-se incapaz frente à indiferença daqueles jovens que estavam ali. Diante de uma das músicas mais populares da cultura nacional  e de um dos poemas mais densos da literatura brasileira que podiam levar os alunos à sabedoria e não à filosofia, ele simplesmente encontrou sarcasmo. Perplexo, como aprendiz de filósofo que era, pensou: "estão rindo do quê? rindo por quê?" Ficou sem resposta. Apenas lembrou-se de Frejat: "...rir de tudo e desespero". Quis encontrar respostas e não conseguiu. Apenas ficou pasmo e desesperado, pois via-se no mundo sem referências, onde tudo era motivo de riso, não um riso de felicidade, mas de sarcasmo. Sarcasmo de ignorância, sarcasmo de indiferença, sarcasmo diante da atriz, dos poetas, que infelizmente foram interpretados como patetas. Assim como na poesia ele perguntara a si próprio: "E agora, José?". Percebia que as melhores referências da vida iam morrendo. Este era o cenário: a indiferença pelo outro, o egocentrismo de alguns que acreditavam ser melhores que outros, a falta de inteligência, ou de preguiça intelectual em perceber a beleza ali representada. Aquilo, infelizmente era um cenário de muitas mortes. A preguiça intelectual impedira o assombro, pressuposto filosófico por excelência, e provocara o riso sarcástico e não dramático, típico daqueles que tem medo de lançar-se à aventura do saber, porque tem muito a esconder, principalmente a própria ignorância. Porém, ele inserido em um cenário de muitas mortes, acreditava no ser humano e esperava humana e teologicamente  na ressurreição: da beleza, da arte e da fé. Fé no ser humano, que nas situações mais simples e belas, como aquele monólogo que estava sendo apresentado, parecia tão indiferente, não só a arte, mais também a própria ignorância e ao sono da própria razão, o que é muito perigoso, pois, como no quadro de Goya, o "sono da razão produz monstros".