segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Requiem ad amoris

Nada a dizer, apenas um olhar
O ser  maravilha-se com lembranças
Como pode ser tão bobo o coração do homem?
Ri de si ao ler o Pessoa
Ah o coração deveria pensar:
Mais...”se o coração pudesse pensar, pararia”.

O humano é mesmo incoerente
Denota sorriso e quase sempre indiferença, por que?
Indigna-se coração, afinal o ser humano é uma metamorfose...
Carinho, afago, alento...nada disso, apenas indiferença.
Ah...tolo coração
Lamenta  ter nascido
Pobre o coração que amou!

Estar só é a melhor solução ...
Nada a dizer, nada a falar, nada a pedir
Imprestável razão, para que serves em momentos assim?
Loucuras não sana!  És pobre de Espírito
E não entendes nada de esperança.
Karl Jaspers, Gabriel Marcel, às avessas:
A razão mata a esperança, pois inverte a lógica do princípio da imortalidade, pois diz:
Jaz aqui um coração que amou, e dizer “amar” e condenar-se a própria morte.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

AMOR EM TEMPOS DE PROZAC


Definir o amor? Difícil. O que é amar. Diz André Comte-Sponville:
“Amar é aceitar, suportar quando preciso.
Alegrar-se quando se pode.
Sabedoria trágica é a única que não mente”.

Sabedoria trágica...Os gregos entendiam que o amor manifestava-se de três maneiras, pela amizade, pela paixão e pela totalidade. Amar é algo que se cultiva. O que não se cultiva morre. A paixão, por exemplo, é arrebatadora, como uma onda gigante destrói, machuca e fere, porém é um paradoxo, faz bem e deixa saudade. E...como é bom sentir saudade dos momentos bons que a paixão proporciona. Mas apaixonar-se não basta, é preciso cultivar a paixão, transformá-la em amor para atingir a totalidade. Todos querem ser amados, mas poucos conseguem manifestar o sentimento de cultivo que o amor exige. Há os que só exigem, só cobram e não aceitam ser cobrados ou exigidos. Estagnam no campo da paixão, passa a paixão, passa o “tesão”, não sobra nada. O outro deixa de ser sujeito e passa a ser objeto. Estes apaixonados de ocasião seguem o lema do poetinha: “Seja eterno enquanto dure...”. Mas quem pode dizer que estão errados? No período que alguns teóricos chamam de pós modernidade, o ser humano também pode ser visto como utilizável às vezes, descartável sempre. É a tendência do amor que apaixona-se e desapaixona-se:  “Afinal, chato são os outros”, ou como diria Sartre: “O outro é meu inferno”.
Para sair do “inferno” é preciso olhar com o coração, somente o coração é capaz de enxergar o essencial, pois na essência do amor o ser humano é capaz de entrega-se sem reserva, de sorrir ao lembrar-se do ser amado, não se entendia, não se enche de orgulho, perdoa, compreende, não cultiva ciúmes, porque confia, enfim o amor cultivado depois da paixão pode construir, tornar-se eterno, permanecer, já poetizara Paulo, o apóstolo, na carta aos Coríntios. Mas este amor...ah, este amor não tem lugar no mundo pós moderno. Afinal vivemos em um mundo de belezas fabricadas, de cartões de crédito, de rede sociais, que, são bons em sua essência, porém seqüestram o tempo, o diálogo, o olhar do outro. Seqüestra o ser humano de si mesmo. Como já bem escreveu o poeta do eterno. Relacionar-se com o capital e o virtual torna-se menos complicado, e menos comprometedor do que relacionar-se com o real, com aquilo que desafia a todos a descobrir suas potencialidades e suas fraquezas. O amor, sabedoria trágica! Fugir de tal sentimento torna a vida mais fácil, pois abraçar o amor com todas as suas nuances pode tornar a vida angustiante demais, e afinal em tempos de PROZAC quem quer enfrentar a angústia do desafio de amar e ser amado?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Olhares, partidos e posições

Não há fatos eternos, como não há verdades absoluta
Nietzsche 

Como o tempo o olhar torna-se mais astuto. Diz o filósofo francês Gilles Deleuze que a sabedoria vem com o tempo. A idade da filosofia pode ser, de fato, a velhice. O tempo que não para e nos devora mostra que existem olhares e olhares. Algumas pessoas menos temperadas tomam posições radicais sem nenhuma reflexão, tem um olhar inviesado à esquerda. Outros nunca tomam posição de olhar, fingem não ver.Outros são aqueles que estão por demais ao centro, tem um olhar "muresco", concordam com Nietzsche, os fatos são relativos, as verdades não são absolutas, daí deixam o "circo pegar fogo" e depois tomam partido, e é claro partido que os favoreçam sem serem prejudicados. Lembram o partido do "pântano" na revolução francesa. Nem esquerda, nem direita. São centro, são "birutas" vão com o vento favorável. A sabedoria diz que deve-se calar, mais do que falar. Mas seres sem posicionamento correm o risco de ficar fora da história, mesmo que a história não valoriza os anôminos, do qual a grande maioria faz parte. Porém anonimato sem coragem, torna-se covardia. Em tempos de corrupção, de cônchavos, de falsidade exacerbadas é necessário, mesmo como anônimos que nunca aparecerão na História Oficial, ter um posicionamento, afinal lembrando Brechet: Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos, e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida, esses são os imprescindíveis. Logo a luta não permite um "olhar muresco", tal olhar pode conduzir a perder o bonde da História, mesmo que nesta história não exista "fatos eternos"
.