quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

ENTRE O SER E O NADA




Naqueles dias sombrios ele pensara em fugir para as montanhas. Como as montanhas lhe faziam bem. Sentia-se perto de Deus. Aliás, sempre sabia que Deus estava com ele, ele é que sempre achava uma maneira, à maneira dos profetas, de fugir de Deus. Aquele coração queria ser feliz, e percebera que a felicidade estava lhe escapando às mãos. Para aquele coração cansado, isto representara um problema. Afinal, acreditava como Aristóteles que ser feliz era a finalidade da vida e lutava para conquistá-la. O problema é que ele, idealista que era, esquecera-se um pouco da realidade e projetara todo sentimento em algo ilusório, algo que ele pensara ser e verdade e o caminho para a felicidade A fantasia que ele projetara deveria trazer-lhe mais problemas do que resolvê-los. Pensando nas montanhas, percebeu que felicidade não poderia ser projetada, deveria ser conquistada no chão da vida. Sofreu, deixou tudo subentendido, mas calou-se. Sábio, pelo menos, naquele momento não revelou o que se passava em seu íntimo, simplesmente observou e percebeu que deveria manter-se calado, como quem ouve uma sinfonia, pois sua projeção de felicidade era apenas “0,01%” do que sonhara, o resto era uma realidade que certamente traria um peso maior, ele aprendera com os sábios que “não deveria trair seus ideais” para tentar ser feliz... Assim como os estóicos resolvera “esperar menos, e amar mais”. Amar era transformar sua realidade, por mais difícil que  fosse, em uma verdade bela, boa e bonita. Neste contexto o desejo de fuga para montanha, o colocara de volta à planície, onde ele certamente lutaria pela felicidade que tanto almejara.