sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sobre cuidados e despedidas

Ele fora atingindo por notícias de morte naqueles dias. Pessoas que se foram, assim, inesperadamente. Sabia-se sem palavras para consolar os atingidos por aquele fato da existência. Ele mesmo sentia-se atingido de alguma forma. Repetia a si mesmo, como o poeta: "Não pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram por ti. A morte de qualquer ser humano me diminui". Mas pela serenidade que vira no rostos dos amigos que foram massacrados por aqueles fatos, percebera que a morte apesar de dolorida, apesar de criar o vazio da saudade, deixara naqueles rostos a esperança da vida, da vida que deve ser continuada, cuidada, planejada. Ao mesmo tempo que recebera notícias de morte, recebia a notícia alegre de nascimentos que enchiam os corações de esperança. A vida era sempre renovada, esperada. Chegara a conclusão, diga-se de passagem óbvia, que um dia as pessoas mais próximas a ele também se despediriam da existência, que ele próprio se despediria. Afinal era o ciclo da vida, por vezes prolongado, por vezes interrompido de forma brusca e dolorida, mas sempre continuado. Por isto vida rima com cuidado, cuidado de si, cuidado do outro. Por que na hora da despedida embora saudosamente dolorida não ficará nenhum resquíscio de mal cuidado, de palavra mal dita, de rancor. Apenas a certeza do cuidado que valeu a pena. A certeza de que "amar alguém: é dizer tu não morrerás" permanecerá nos corações. A esperança do eterno.  Afinal cuidar e amar é eternizar o ser amado no coração!