domingo, 20 de junho de 2010

Mil tons de Minas e o tempo...

O título que abre a postagem é uma paráfrase do CD de Emmerson Nogueira , “Milton, Minas e muito mais”. Sabe-se que Minas produziu e produz uma gama musical bela e inesquecível, produziu e produz, mil tons. Quem da nossa geração não cresceu ouvindo Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, Flávio Venturini entre outras estrelas discretas da constelação mineira, que preferem os bares da vida, a mídias globais? Estas canções e poesias provocavam em nós uma atitude de sonho e beleza. Tudo isto vindo das montanhas mineiras. Aliás, em Minas tudo é belo, a culinária, o sotaque, a vida. Ah... a vida, ela é cheia de poesia em Minas...mesmo quando as circunstâncias da vida não são tão belas assim.

Só fui conhecer Minas depois da maioridade, mas quando criança já conhecera Minas, pelas canções que meu pai escutava aos domingos à tarde e através dos livros de História. Agora ouço o cd que citei e relembro Minas. Em Minas o pôr do sol é magnífico, reluz nas montanhas, faz calar o coração. Hoje se perdeu a capacidade de assombrar-se. Tudo parece muito tosco, pobre e chato aos olhos de alguns. Não nos assombramos mais com este estilo de vida: canções, poesias, pôr-do-sol, sabor da comida, conversas jogadas fora. Dizem “isto não é coisa para homem...”, afinal os homens tem que correr, ganhar dinheiro e serem devorados pelo tempo e as mulheres, poetisas por excelência e competência estão entrando também no ritmo da vida tola que levamos. Tudo é muito rápido, basta digitar uma palavras em um dos sistemas de busca da rede, e pronto: tudo se resolve! Como no mito grego de Krónos, o tempo, nos devora e apavora. Bom seria transformar este tempo que nos devora e apavora, no tempo de Graça, que nos encanta e espanta. É preciso voltar a “assombrar-se” com as coisas simples da vida, que existe em Minas e em qualquer outro lugar, no sorriso belo da criança, na cumplicidade do casal, nos sonhos da juventude, no idealismo do profissional, basta abrirmos nossos olhos e veremos que existe muita Graça ao nosso redor. Não se pode deixar o tempo passar tão depressa assim. É preciso aprisioná-lo na beleza da vida. Mas parece que não temos mais tempo para o papo com os amigos, com a família. Não temos tempo para reler os clássicos, ouvirmos uma boa música, saborear uma boa cachaça, na dose certa, com um torresmo...(Creio que a pressa mata mais que um prato de torresmo). É preciso parar para ouvir Miltons, Venturinis e companhia limitada e perder tempo com os amigos. Nas entrelinhas da poesia e da canção, talvez, compreendamos melhor a vida. Nas palavras da sábia Adélia Prado, poetisa admirável que fala dos assuntos divinos unindo-os ao cotidiano humano, direto de Divinópolis, não tenho tempo nenhum, porque ser feliz me consome...

Um comentário:

  1. Texto fantástico, que mostra uma realidade do nosso tempo atual, para muitas das pessoas que vivem por aí. Porém, esse mesmo texto propõe resgatar as coisas boas da vida mesmo porque só temos uma vida, que deve ser sempre "bem vivida", para que valha a pena!

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