“Le vrai ce qu´il peut; Le faux este ce qu ´il veut”
Madame de Duras
Ninguém sabia ao certo de onde viera... Ninguém sabia sua história. Apenas aparecera ali com alguém messiânico, para ocupar o lugar deixado em vacância. Chegara como quem não quer nada, mas na verdade queria muito, e em um mundo capitalista, onde os outros são somente outros, querer era poder, ela, afinal devia ser leitora de Maquiavel, e já havia feito sua opção.
Seus olhos e seu olhares, como canta Leoni, continham milhares de tentações... Parecia frágil, simples, e como diz Platão, tudo que é belo em sua essência, é bom, ou vice-versa. O problema é que a analítica fundamental, no caso um olhar masculino meio turvo, errou: ali não morava a essência, ali estava à aparência, o simulacro. Por trás daqueles olhos de ressaca, havia um mar revolto que ninguém conhecia, e os menos desavisados poderiam afogar-se.
Como o mar, ela era algo instável, ora vinha, ora ia. Não tinha palavra definida, era em sua essência algo sem conceito. Nada confiável. Assim como o partido do pântano na revolução francesa, fazia o jogo da burguesia, mas queria mesmo era o luxo da nobreza. Com os olhos manipulava corações menos racionais. Porém, queria seduzir o dono do poder, assim como as cajazeiras de Dias Gomes, ou seria o inverso, seria um Odorico Paraguaçu “de saias”, que fazia juras de amor, mas na hora de dar-se, fazia um discurso enviesado e sai matematicamente pela tangente?
Neste caso não há respostas. Um ser de multifaces é sempre um perigo e um enigma pior do que a esfinge edipiana.
Chega-se, então, caro leitor, a uma conclusão, como os antigos gregos é melhor evitar o olhar da medusa, uma das várias faces dos olhos de ressaca, para não ser petrificado, e evitando o olhar, dizer: “Desculpa, eu estou de costas...”.
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