"Não perguntem por quem os sinos dobram.
Eles dobram por ti".
John Donne
Machado de Assis dispensa apresentações, no livro Memórias póstumas de Brás Cubas encontramos a seguinte frase: "“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.” Cruel a frase. Porém com os últimos acontecimentos que permeiam a mídia é uma frase que faz pensar. Uma pessoa, em tese, literalmente jogada aos cães. Uma pessoa que aparece na mídia porque se envolveu com um "cara" famoso. Imagine-se quantas mortes mais cruéis acontecem todos os dias e não despertam o mesmo interesse porque não "vendem" notícia. Baseando-se em Machado de Assis, todo humano padece e perece por conta de suas misérias. Porém é assustador ver que o ser humano entrou no estágio "involutivo". Mata-se, porque não se tolera o outro, abandona-se por que "não dou conta do outro". Em suma, como diria Sartre, "o outro é meu inferno". Esquece-se da auto-crítica. Em contra ponto, Emmanuel Lévinas (1906-1995) escreve em suas obras sobre o "olhar" do outro., da alteridade e apresenta a Filosofia como ética primeira. Importar-se e cuidar do outro é no mínimo, para Lévinas, "imperativo categórico". O outro é aquele que me desperta para a vida, me tira do comodismo, desperta para Graça e me traz a salvação. Porém, o outro, agora é tornando um nada, alguém, que no mínimo dever ser eliminado. Olhando atentamente para o caso do "corpo jogado aos cães" e para quem o jogou ou mandou jogar perceber-se de relance que tudo começou com um abandono e com a desculpa: "Não dou conta dele". "Não posso cuidar do outro". "Não tenho condições". e esta desculpa virou uma bola de neve, que transformou, pelo menos, duas vidas. Cuidar não é dar tudo o que se quer, mas é dar tudo aquilo que se pode: valores, e o principal deles, zelar pela vida. A miséria humana cresce a partir do egoísmo, da incapacidade de amar e culmina com um grito desesperado de atenção, que pode resultar em "comida para cães". Hoje preocupa com o fato de se produzir lixo e como cuidar deste lixo, o que é importantíssimo para o futuro da humanidade. Dever-se-ia no mínimo preocupar-se, também, com a vida que se reproduz. Pois transformar a vida humana em ração para cães é perceber que, de fato, Brás Cubas teve a atitude certa!
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