Naquela manhã acordara e fora
impactado com a notícia que um avião caíra nas montanhas da Colômbia, a terra
do realismo fantástico de Garcia Marquéz. Acidentes acontecem, tragédias
acontecem. A morte ronda a vida como uma irmã, como já alertara Francisco, o de
Assis.
No avião estava a tribo de Condá
que ia à batalha nos campos de futebol em busca da glória!
Ele que desde a copa da Espanha em 1982
aprendera a gostar do futebol quis entender aquilo... Seu pai lhe contara do
time do Torino que tivera o mesmo destino em 1949 e agora ele presenciara
tragédia semelhante.
Racionalmente buscara compreender
que a existência é feita também de tragédias, mas era impossível, como
admirador do futebol e especialmente da vida não se perguntar o “por quê?” mesmo
sabendo que não haveria respostas.
Mas o fato o relembrara algumas
lições.
A primeira delas, “a vida é breve, a
arte é longa” , como diriam os clássicos latinos. A vida é frágil, não há
certeza que ver-se-á o sol nascer amanhã, apenas crê-se por hábito que sim como
quisera inferir Hume, o filósofo cético. Portanto há várias probabilidades de que
a vida seja realmente muito breve...
Outra lição, todos os problemas da
vida são pequenos diante da tragédia, tragédia que nem sempre se percebe mas
que está sempre ao nosso redor, seja ela afetiva, somática, política ou aquela que ceifa a vida, essa última traz a dor mais lancinante e diante dela
calam-se todos os humanizados, pois nas palavras do
poeta: A morte de cada homem diminui-me,
porque eu faço parte da humanidade; eis porque nunca pergunto por quem dobram
os sinos: é por mim.
Aquela manhã triste lhe renovara
na mente algumas lições e questionamentos que ele quis racionalmente responder através
da lógica heideiggeriana que afirmara que o ser humano é “um ser-para-a-morte”, lógica que o lembrara que humanos são como os gladiadores romanos, na arena do mundo
já entram dizendo ao imponderável: morituri te
salutant, (os que vão morrer te
saudam). Porém não quis aceitar a lógica fria da filosofia...
Com os olhos
marejados por aqueles que partiam preferiu lembrar a poesia extraordinária de
Guimarães Rosa “A gente não morre. Fica encantado”.
Nas montanhas mágicas de Gabriel
Garcia Marquéz os guerreiros juntaram-se a Condá e se encantaram, para sempre vão estar na
memória e no coração dos que ficam, por um tempo incerto, no palco do mundo!